quarta-feira, 13 de junho de 2012

Edifício Master

Um dos temas mais centrais para as ciências sociais é o da diversidade. Diversidade, esta, que encontramos nas mais variadas manifestações culturais ao redor do mundo e que, atualmente, são amplificadas e descobertas por cada vez mais pessoas devido aos meios de comunicação, em especial, a internet.
Nós, brasileiros, temos a diversidade como uma espécie de plataforma da qual construímos nossa cultura, num amálgama multiforme de credos, cores e artes, que vieram de vários lugares para germinar em nossa terra essa infinidade de manifestações culturais que aqui temos.
A diversidade não existe apenas no âmbito das manifestações coletivas e de seus aspectos mais gerais, mas é ainda mais intensa a medida em que se aproxima das pessoas, vista de um olhar mais intimista. Um dos exemplos mais clássicos da sociologia vista de um olhar mais individualista e menos totalitário é o trabalho do sociólogo estadunidense Erving Goffman. Goffman é considerado um dos principais pensadores do interacionismo simbólico – escola sociológica que buscou analisar as interações sociais entre indivíduos para entender como esse processo é definidor na construção das identidades pessoais e coletivas. Um dos principais estudos dessa escola estão focados na imagem que possui um sujeito social, vista do seu ângulo pessoal e segundo a percepção dos outros em relação a ele, e como essa imagem influência diretamente a integridade psicológica desse indivíduo e suas relações com a sociedade. Desta perspectiva, começou a tomar um corpo mais concreto o estudo dos comportamentos desviantes, dos estigmas e das identidades sociais dentro da sociologia, influenciando inúmeros pensadores, como o antropólogo carioca Gilberto Velho. Gilberto Velho é considerado um dos maiores estudiosos da antropologia urbana no Brasil, tendo se debruçado sobre variados temas e problemas da cidade, como a violência, as relações interpessoais, religião e muitos outros. Um de seus principais trabalhos é sua tese de mestrado “A Utopia Urbana” de 1970, na qual ele extrai do prédio onde morava o substrato de seu trabalho – buscar entender a relação do espaço urbano – no caso, um prédio com centenas de pessoas em Copacabana – com a construção das identidades sociais daquelas pessoas, em interação com os demais, com o lugar e o significado que ele carrega. De alguma forma, entender o que significava ser morador de Copacabana, morando no gigantesco edifício Master. Construído em meio a zona nobre do Rio de Janeiro, o Master destôa dos chiques padrões de Copacabana, sendo um gigantesco prédio onde moram cerca de 500 pessoas, em sua maioria das classes média-baixa.
Tendo como material o mesmo prédio utilizado na pesquisa de Gilberto Velho, trinta anos depois, e também partindo de uma ótica microsociológica, Eduardo Coutinho produziu em 2002 o documentário “Edifício Master”, trazendo à tela relatos surpreendentes sobre a vida de pessoas completamente diferentes que compartilham de um mesmo prédio, numa cidade que abriga como poucas a diversidade humana dentro do Brasil. Reconhecido por sua estética crua ao documentar a realidade, Coutinho traz, de forma ao mesmo tempo íntima e direta, discursos extraídos dos personagens reais que vivem no Edificio Master, trazendo à tona reflexões de como se dão as interações humanas nos espaços urbanos, e da forma como as pessoas se enxergam dentro de seus contextos sociais.

Abaixo, o link para baixar o torrent do documentário (ainda não sabe como baixar arquivos torrent? clique aqui):

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