Um dos temas mais
centrais para as ciências sociais é o da
diversidade. Diversidade, esta, que encontramos nas mais variadas
manifestações culturais ao redor do mundo e que, atualmente, são
amplificadas e descobertas por cada vez mais pessoas devido aos meios
de comunicação, em especial, a internet.
Nós, brasileiros,
temos a diversidade como uma espécie de plataforma da qual
construímos nossa cultura, num amálgama multiforme de credos, cores
e artes, que vieram de vários lugares para germinar em nossa terra
essa infinidade de manifestações culturais que aqui temos.
A diversidade não existe apenas no âmbito das manifestações
coletivas e de seus aspectos mais gerais, mas é ainda mais intensa a
medida em que se aproxima das pessoas, vista de um olhar mais
intimista. Um dos exemplos mais clássicos da sociologia vista de um
olhar mais individualista e menos totalitário é o trabalho do
sociólogo estadunidense Erving Goffman. Goffman é considerado um
dos principais pensadores do interacionismo simbólico – escola
sociológica que buscou analisar as interações sociais entre
indivíduos para entender como esse processo é definidor na
construção das identidades pessoais e coletivas. Um dos principais
estudos dessa escola estão focados na imagem que possui um sujeito
social, vista do seu ângulo pessoal e segundo a percepção dos
outros em relação a ele, e como essa imagem influência diretamente
a integridade psicológica desse indivíduo e suas relações com a
sociedade. Desta perspectiva, começou a tomar um corpo mais concreto
o estudo dos comportamentos desviantes, dos estigmas e das
identidades sociais dentro da sociologia, influenciando inúmeros
pensadores, como o antropólogo carioca Gilberto Velho. Gilberto
Velho é considerado um dos maiores estudiosos da antropologia urbana
no Brasil, tendo se debruçado sobre variados temas e problemas da
cidade, como a violência, as relações interpessoais, religião e
muitos outros. Um de seus principais trabalhos é sua tese de
mestrado “A
Utopia Urbana” de 1970, na qual ele extrai do prédio onde morava o
substrato de seu trabalho – buscar entender a relação do espaço
urbano – no caso, um prédio com centenas de pessoas em Copacabana
– com a construção das identidades sociais daquelas pessoas, em
interação com os demais, com o lugar e o significado que ele
carrega. De alguma forma, entender o que significava ser morador de
Copacabana, morando no gigantesco
edifício Master. Construído em meio a
zona nobre do Rio de Janeiro, o Master destôa dos chiques padrões
de Copacabana, sendo um gigantesco prédio onde moram cerca de 500
pessoas, em sua maioria das classes média-baixa.
Tendo como material o
mesmo prédio utilizado na pesquisa de Gilberto Velho, trinta anos
depois, e também partindo de uma ótica microsociológica, Eduardo
Coutinho produziu em 2002 o documentário “Edifício Master”,
trazendo à tela relatos surpreendentes sobre a vida de pessoas
completamente diferentes que compartilham de um mesmo prédio, numa
cidade que abriga como poucas a diversidade humana dentro do Brasil.
Reconhecido por sua estética crua ao documentar a realidade,
Coutinho traz, de forma ao mesmo tempo íntima e direta, discursos
extraídos dos personagens reais que vivem no Edificio Master,
trazendo à tona reflexões de como se dão as interações humanas
nos espaços urbanos, e da forma como as pessoas se enxergam dentro
de seus contextos sociais.
Abaixo, o link para baixar o torrent do documentário (ainda não sabe como baixar arquivos torrent? clique aqui):